Meu objetivo é singularizar, obscurecer, desfamiliarizar algo que sob minha percepção já se tornou banal e sem "essência", algo que eu assimilo de maneira automática, sem observação. Quero transformar percepção mecânica em visão "estranha".
O objetivo da arte é dar sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção
Um autor que se utilizava constantemente de tal procedimento era L. Tolstoi. Seu processo de singularização consiste no fato de que ele não chama o objeto por seu nome, mas o descreve como se o visse pela primeira vez e trata cada incidente como se acontecesse pela primeira vez". Por exemplo, em Kholstomer, a narração é conduzida por um cavalo e os objetos são singularizados pela percepção emprestada ao animal, e não pela nossa.
Até hoje, nós violentamos a câmera forçando-a a copiar o trabalho do corpo humano. Doravante, a câmera estará liberta e nós faremos funcionar na direção oposta, o mais possível distante da cópia.
Eu posso forçar o espectador a ver esse ou aquele fenômeno visual do modo como me é mais vantajoso mostrá-lo.
O meu caminho leva à criação de uma percepção nova do mundo. Eis porque decifro de modo diverso um mundo que vos é desconhecido
- o cine-olho constesta a representação visual do mundo dada pelo olho humano e que propõe seu próprio "eu vejo" e
- o kinok-montador organiza os minutos da estrutura da vida, vista pela primeira vez desse modo.
Como eu posso ter uma visão diferente sobre o objeto e ainda transpô-la para a camêra?
Encontrei uma série de imagens legais nesse link.
Estes botões velhos parecem planetas.
Olhando de perto, o capô congelado de um carro parece a Terra, vista do espaço.
Este cemitério de Tóquio, visto de cima, parece uma cidade.
Uma lagosta no balde que parece um monstro gigante em cima de um planeta prateado.
Esta pedra com musgo que parece uma ilha vista de cima.
O interior de um violão que mais parece um apartamento supermoderno.
Eu quero trabalhar com a percepção. As imagens acima, por exemplo, atingiram um efeito de desfamiliarização através da brincadeira com a proporção dos objetos e a maneira - ângulo, posição da camêra - como eles foram capturados. Eu poderia gerar uma singularização trocando o ponto de vista: ao invés de eu ver um objeto sob o meu olhar, eu ver o mundo sob o olhar do objeto, isto é, ser o objeto.
Minha ideia é "trocar de lugar" com o lixo. Por quê? Ultimamente eu me sinto como um rs. Seria interessante e engraçado brincar com essa ambiguidade: estou singularizando a mim mesmo ou o lixo? Além disso, como todo o público que assistir ao vídeo também estará se colocando no lugar do objeto e seu conteúdo, não seria absurdo dizer que também é uma crítica sobre a maneira que o ser humano, em geral, vêm se comportando frente a algumas situações.
Este foi um teste gravado com a câmera frontal do celular. A luminosidade curiosa que surge ao fechar a tampa deve-se a luz que é emitida da própria tela do dispositivo.
Já este foi gravado com a câmera traseira do celular. Agora tudo fica escuro quando a tampa se fecha. A ideia original era esta mesmo e acho que combina mais com a sensação que deve ser sentida ao assistir o vídeo.
Aqui mais um teste. Agora com o meu reflexo aparecendo na tampa; eu acabei aparecendo por acidente e, na verdade, gostei pois contribui bastante com a proposta do vídeo.
Áudio do jornal. Pretendo cortar para pegar as notícias mais absurdas e ultrajantes.
Sons de cozinha. Eu imaginei uma lata de lixo de cozinha e queria usar esses sons para tentar inserir um contexto narrativo no vídeo: alguém está na cozinha preparando ou fazendo algo enquanto escuta as notícias do jornal.
Mais sons.
O espaço cinematográfico pode ser definido e dividido sob concepções diferentes. Segundo Éric Rohmer, o espaço é organizado por meio de três campos: o pictórico, o arquitetural e o fílmico. Já para Noel Burch, o cinema é composto por dois espaços: o que está compreendido dentro do campo visual do espectador, i.e. o que ele vê pela tela; e o que está fora do campo visual, que por sua vez engloba 6 segmentos. Estes são delimitados pelas 4 bordas do quadro, o que está por trás da câmera e o que está atrás do cenário.
Quero usar este recurso de espaço fora do campo visual para causar algum pequeno impacto ou um plot twist no final de uma cena. Minha ideia é gravar uma pessoa dormindo ao som de bombas e barulhos de guerra para dar a entender que é algum tipo de sonho. No final, no entanto, revela-se que eram sons acontecendo em lugares reais. Seria interessante levar o espectador a refletir que, enquanto ele usufrui uma condição de segurança e conforto, retratada pela imagem da cama, há outras pessoas vivendo em cenários terrivelmente precários e que precisam de ajuda - o "pesadelo" da pessoa dormindo.
Minha inspiração veio das atuais notícias divulgadas sobre o guerra na Síria e tenho em mente usar tal contexto, em especial, o recente caso de ataque com mísseis dos EUA, França e Inglaterra em resposta ao uso de armas químicas sob a ordem de Bashar al-Assad.
"Roteirinho":
Primeira cena: enquadramento do personagem (meu irmão) dormindo. O extra campo é ativado com os sons de guerra e caos que estão acontecendo em outro local do planeta. O horário será colocado na edição.
Segunda cena: café da manhã no dia seguinte. O personagem liga a TV e, segundos depois, acompanhamos o noticiário com o som em off-screen.
Terceira cena: enquanto o personagem toma seu café da manhã, escutamos a jornalista noticiando o ataque de mísseis à Síria.
Para criar a atmosfera de "pesadelo" e, tendo em mente o tema da guerra, escutei a trilha sonora do filme Dunkirk. Encontrei esta faixa que é perfeita para a primeira cena, há inclusive um "tic-tac" que lembra o som de um relógio, o que ficaria com a indicação do horário.
Sons de guerra e caos. O primerio é um áudio real gravado após um ataque na Síria.
Áudio do jornal já editado.
Sons de ambiente.
O texto em questão propõe uma discussão acerca do cinema e sua função como ferramenta artística, indagando em que medida a câmera é usada para reproduzir ou produzir. No sentido de reprodução, o filme é predominantemente usado para registrar grandes conquistas criativas, mas usualmente de peças, atuações, romances, natureza, etc., preterindo a criação de sensações originalmente fílmicas.
Socorro. Estou sem ideias, o semestre está acabando acabando com a minha verve.
Eu gostei bastante das animações experimentais que vimos em aula. Acho que traduz bastante o cinema como forma de produção, uma vez que baseiam-se essencialmente no movimento de formas e geram sensações peculiares. Juntando tais fatores com o desafio da plasticidade da imagem, seria interessante elaborar algo com bastantes cores, movimento e, se possível, texturas. É também uma boa oportunidade para usar recursos computacionais.
Pesquisei bibliotecas disponíveis para algumas linguagens de programação, mas todas são muito complexas para tentar produzir algo em cima da hora. Vou optar pelos recursos de HTML mesmo e construir uma página de web.
Depois de muito trabalho consegui construir alguns retângulos. Acho que consigo animá-los e instanciar minhas variáveis de maneira aleatória. Se der certo eu poderia cobrir a tela inteira com retângulos coloridos se movendo.
Consegui definir tudo aleatoriamente e animar as formas! Uhul! Também fiz com que, a partir de um determinado número de iterações, os retângulos se tornassem pretos, assim, no final, acabamos com uma tela preta preenchida por todos os retângulos.
Clique aqui para ver o resultado.